A Maravilha #38

Os Olhos. De Vidro. 

A Maravilha #37

Os Olhos. A Reprodução. 

A Maravilha #36


Os Olhos. Um dos primeiros. 

A Maravilha #33

"Je vous ai me". "Je vous ai me" (Georges Demeny). Photographie de la Parole (1891)

A Maravilha #32

A Segunda Natureza. Os elementos transurânicos. O Neptúnio, o primeiro elemento (transurânico) produzido sinteticamente. É constituído por um número atómico superior a 92 (o número atómico do urânio), como tal não existe na natureza. Tem 93 números atómicos e é essencialmente produzido em reacções nucleares. 

A Maravilha #31

O Cinema Vertical. Dean e Deren.
Nota: “The distinction of poetry is its construction (what I mean by “a poetic structure”), and the poetic construct arises from the fact, if you will, that it is a “vertical” investigation of a situation, in that it probes the ramifications of the moment, and is concerned with its qualities and its depth, so that you have poetry concerned in a sense not with what is occuring, but with what it feels like or what it means.” (Deren, in Poetry an the Film: A Symposium)

A Maravilha #30

O Sismógrafo (Zhang Heng, 132 d.C.). “Enquanto continuo a espreitar pelo canto do olho, apuro o ouvido à escuta do rumor que sobe, que aumenta. É um ruído de mandíbulas, ténue e formidável, uma linguagem de térmitas. Um idioma estranho, agudo e rude, feito de rangidos de saibro e de bicadas, um dialecto de insecto.” Mais, “Trinta milhões de besouros e de cigarras, de joaninhas e de grilos, todo um povo de insectos arcaicos — gafanhotos, lagartas, pulgões e borboletas — tomou posse da mesa e das cadeiras, dos móveis, das paredes, com um furor de animalejos. Põem-se em movimento com o tórax e o abdómen, as patas, as asas e as antenas. Roem, escavam, furam e debicam, pululam sob os rodapés. Têm a cabeça extremamente móvel poisada sobre um pescoço muito estreito. Carregam a casa inteira às costas”; (in, Ferrier, Michael, Fukushima: crónica de um desastre). O Sismo Vertical.

A Maravilha #29

Os Olhos. 

A Maravilha #28


A Visão Alucinatória. 

A Maravilha #27

Da diferença estereoscópica. O texto virá muito tarde.

A Maravilha #26

Le Bunker.

A Maravilha #25

La Forêt. 

A Maravilha #24



O comprimento de onda versus o mesmo comprimento de onda = comprimento x 2 (no mínimo). A onda é abstracta. Assim pode ser definida pela sua amplitude que, ortogonalmente se relaciona com a direcção da sua propagação. Por amplitude consideremos a extensão ou a abertura angular. Mas não deixemos de lado hipóteses como o alcance de um projéctil ou a curva descrita por um astro. Por propagação consideremos então, a difusão e a comunicação por contágio e também um modo de transmissão. Ainda que cientificamente a amplitude possa ser o valor máximo de uma quantidade variável com o tempo, a propagação definirá sempre a distância

A Maravilha #22

A Super-Ego pode ser uma materialização da trilogia psicanalítica, se considerarmos o nosso património maquinado essencialmente paternalista e uma extensão do chamado psychischer apparat. Se atendermos a uma fenomenologia dos equipamentos tecnológicos, estaríamos perante o desactualizado modelo SUPER THREAD 4. E ainda, perante a identidade maquínica SD60116. Abandonada num corredor de passagem do edifício departamental, e dotada de uma discreta aparência, esta Ego não revela os seus mais valiosos efeitos. Apenas as linhas metalizadas que se apresentam como restos e nos informam da sua constante actividade: alinhar. Ou nivelar informação através de linhas de execução. Os restos são as pontas. Os inícios ou os fins sem fim, sendo que o objectivo da operatividade desta máquina é, sem surpresa, a implementação da linearidade. É a sua silenciosa discrição e os cantos que permitem o seu funcionamento sem sobressalto. Só actos interruptores suspendem esse alienado estádio. 

A Maravilha #21

Spectro-chrome (1920). Se recorremos à etimologia da palavra “espectro” (spectrum) chegaremos, inevitavelmente à aparição da imagem no quadro da fantasmagoria. Pois spectro pode referir o acontecimento da visão e da aparência, até de um vulto, se reconhecermos a experiência atemorizante e ameaçadora das primeiras projecções dos tecno-ilusionistas Athanasius Kircher (1602-1680) e Étienne-Gaspard Robert(son) (1763–1837). Nestas experiências a palavra “espectro” indicia o dispositivo de projecção enquanto prenúncio de um show. De algo que atravessa o momento de escuridão, criando teatros suspensos da artificialidade da luz. Para todos, e especialmente os curiosos, a imagem quase sempre um susto e emotivo. Esta imagem (projectada) ameaça, adquirindo a singularidade de um monstro e de um fugaz espectáculo pirotécnico
Sem projectar imagens e sem ser apenas uma lâmpada de 1000 watt, este aparelho azul bizâncio é o conclusivo estudo do “Coronel” Dinshah Pestanji Ghadiali. A cor é o argumento terapêutico, enquanto a luz é a energia sem divindade que o trespassa. Reproduziram-se pelo menos 10.000 equipamentos, tudo vendido. Na arquitectura própria foram conduzidas as sessões de cromo-terapia, The Spectro-Chrome Institute, Malage, em New Jersey (1933). As falsas curas e a pena cumprida, não impediram que o efeito deste singular aparelho se perpetuasse. Os estudos sobre a luz, a cor e a electricidade endureceram campos como a psicologia (também a da arte), o naturalismo, etc; ou ainda as conhecidas e ainda actuais práticas new age. De uma nota de rodapé da história da medicina, o emergente Homo Luminous  ganhou resistência. E a sua omnipresença encandeia desde, pelo menos, o tempo das luzes. Mas prestemos mais atenção aos tecno-ilusionistas já apontados, pois lembram que talvez guardados na sombra estejam outros e genuínos (a)pareceres. 

A Maravilha #20

Os Cristais, essas formações que se escondem no escuro da terra, são muito semelhantes à vida. Na tentativa de criar artificialmente Cristais, Andrew Crosse (1836), cientista amador, conduziu experiências que sujeitavam à electricidade certos minerais. Uma pedra do Monte Vesuvio  electrificada foi exposta a uma solução química durante semanas: primeiro apareceram pintas brancas na superfície da pedra, segundo emergiram filamentos dessas pintas, terceiro as pintas transformaram-se em formas irreconhecíveis. Ao convocar o microscópio para a experiência Crosse acabou por notar que essas formas eram insectos perfeitos: Acarus Electricus . Apesar de manter a sua experiência em sigilo laboratorial, o mecanismo de opinião anunciou que criaturas vivas estavam a ser sintetizadas da matéria inorgânica e Crosse foi imediatamente acusado injuriador da “santa religião”, perturbador da paz familiar e demente frankensteiniano. O herético eléctrico, também conhecido por “trovão” ou “relâmpago”. 

A Maravilha #19

Não é tetris (v. #2). É vertigem em dois sentidos. 1. A vertigem pode ser a sensação provocada pela armadilha que a natureza estende à razão humana. O observador é paralisado. Ainda assim existem os “discípulos da Natureza” que sentem sistematicamente a alegria de aprender e experimentar, elegendo com cuidado o fenómeno, “fixando com obstinação”. Talvez não seja ainda criação. Pois, e em reforço, “elegem especialmente e com todo o cuidado um fenómeno fixando com obstinação no seu espírito, que apresenta mil formas diferentes, os olhos.” E, “ajudados por esse fio condutor, percorrem todos os cantos do laboratório para poderem traçar o mapa dos caminhos do labirinto”. Os olhos. No entanto ou “apesar disso, o conhecimento da natureza será incomensuravelmente diferente da interpretação.” Provavelmente “o primeiro passo para se investigar tão gigantesco mecanismo já é o passo para o abismo, começo de uma vertigem que, não tarda, vai apoderar-se por completo do miserável e arrastá-lo consigo ao mais fundo de uma noite abominável.” Citações in Os Discípulos em Saïs. 2. A vertigem pode ser a sensação provocada pelas construções e operações das máquinas. O topo do tetris. Ou melhor, querer-se no topo. Na progressão.

A Maravilha #18

[...] É preciso não esquecer o que Vilém Flusser disse (in, A história do diabo 1965): “os astros são fenómenos temporais, como tudo neste nosso mundo dos sentidos. Com efeito, os astros são imperpétua mobília como as máquinas que nós produzimos.” Portanto, “não, a máquina gigantesca dos astros é obra do diabo. E o nosso parque industrial é sua prole tardia. Os nossos aparelhos são cópias aperfeiçoadas do padrão diabólico que aparece, todas as noites, acima das nossas cabeças.” Então, “O diabo não passará, doravante, de mera parte da criação, a saber aquela parte que torna sensível o mundo. (...): o diabo é, (no seu aspecto externo), o fluxo do tempo, graças ao qual os fenómenos aparecem.” = creator.

A Maravilha #17

“A humanidade não permanecerá para sempre presa à terra” (Konstantin Tsiolkovsky, 1857-1935). Esta bem poderia ser uma das frases base que impulsionou a “Nomenclatura Lunar”, especialmente esta que escrita jaz no túmulo do referido cientista Russo. No prólogo de A Condição Humana (1958), Hannah Arendt dá conta deste facto, alertando que as realizações da ciência afirmaram o que o homem tinha antecipado em sonhos — “sonhos que não eram loucos nem ociosos” — assim como a literatura de ficção científica à qual “ninguém” (?) deu a devida atenção. A reflexão de Arendt sobre a era moderna parte da averiguação histórica da distância entre o homem e o seu mundo, ideia que resume na expressão “ponto de vista arquimediano”: a utilização de um instrumento científico mediador que comprovava o que antes estava destinado à contemplação sensorial directa, não fez mais do que desvalorizar a aptidão dos sentidos para adquirir a verdade do mundo que lhe aparecia. Aqui “mundo” compreende a seguinte divisão postiça: o que foi dado ao homem (a natureza que existe sem o seu auxílio) e o que foi fabricado pelas mãos do homem (homo faber). O dito “ponto” deslocou de tal forma o homem que a alienação passou a ser o estado estimado e dirigente das fábricas dos homens. Por exemplo, a ciência moderna isolou a natureza, ou melhor, chegou a fabricá-la dentro dos laboratórios, herméticos a eventuais distúrbios. Talvez devêssemos reter um pouco mais aqui, pois tem de ficar claro que os instrumentos, ferramentas e utensílios foram feitos pelo homo faber para construir um mundo e não para com eles servir uma necessidade vital do humano. O exemplo mais radical desta alienação foi o exercício de abstracção matemática. O discurso dos signos, um dos instrumentos mentais mais importantes da ciência, revela-se tão longe da palavra através da qual os homens comunicam que permitiu a libertação espacial, material e terrena, pois, “em vez de observar os fenómenos naturais tal como estes se lhe apresentam, (o homem) colocou a natureza sob as condições da sua própria mente, isto é, sob as condições decorrentes de um ponto de vista universal e astrofísico, um ponto de vista cósmico localizado fora da própria natureza.”A tecnologia investida pela ciência moderna serviu para mostrar a verdade desse abstracto, e também mostra que é uma verdade disposta e composta. Mas, retirando as palavras a Arendt, “politicamente, o mundo moderno em que vivemos surgiu com as primeiras explosões atómicas.” Hoje, os instrumentos e o conhecimento sugerido por estes confrontam-nos com a possibilidade arcaica do homo creator: sim, esses zombies biotecnológicos que emergem da plasticidade e do controlo laboratorial anunciam de novo um fim e um princípio.

A Maravilha #16



Nós de . Nó Górdio. Nó de Cirurgião. Nó Lais de Guia Duplo. Nó Autoblocante. Lista de nós. Na verdade só se quiser aplicar numa carreira marítima. Embarcação ligeira ou de recreio. Não queremos nós, nem falsos nós. A palavra foi respigada por necessitar de uma lavagem. Apenas isso. Pois, uma náusea acontece na fonética: Nós? Mas há mais Nós sem ser os dos marinheiros? Há pelo menos um ao qual devemos prestar atenção. E esse foi escrito no início do século XX e, portanto, antecipado nas utopias construtivistas. Para Zamiatine a palavra Nós é uma estrutura bem montada nascida de um dispositivo panóptico, ainda assim, sujeita a descarrilamento. “Primavera. De lá de trás do Muro Verde, das planuras selvagens que escapam à nossa vista, o vento traz-nos o pólen amarelo e melífluo das flores. Este pólen seca-nos os lábios; temos de passar constantemente a língua pelos lábios e, muito provavelmente, todas as mulheres por quem passamos têm lábios doces (e o mesmo sucede, naturalmente, com os homens). O que perturba, em certa medida, o pensamento lógico. (...) — Desculpe – disse ela -, mas vejo-o olhar para tudo com um ar tão inspirado...como o Deus mitológico do sétimo dia da criação. Pelo que vejo, está convencido de que foi você e não outro quem me criou a mim, facto que muito me lisonjeia.” Não queremos nós a não ser para embarcações e marinheiros e pescadores que os fazem essenciais e bonitos. Chega e sobra morar em frente ao porto de atracagem.