A Maravilha #16



Nós de . Nó Górdio. Nó de Cirurgião. Nó Lais de Guia Duplo. Nó Autoblocante. Lista de nós. Na verdade só se quiser aplicar numa carreira marítima. Embarcação ligeira ou de recreio. Não queremos nós, nem falsos nós. A palavra foi respigada por necessitar de uma lavagem. Apenas isso. Pois, uma náusea acontece na fonética: Nós? Mas há mais Nós sem ser os dos marinheiros? Há pelo menos um ao qual devemos prestar atenção. E esse foi escrito no início do século XX e, portanto, antecipado nas utopias construtivistas. Para Zamiatine a palavra Nós é uma estrutura bem montada nascida de um dispositivo panóptico, ainda assim, sujeita a descarrilamento. “Primavera. De lá de trás do Muro Verde, das planuras selvagens que escapam à nossa vista, o vento traz-nos o pólen amarelo e melífluo das flores. Este pólen seca-nos os lábios; temos de passar constantemente a língua pelos lábios e, muito provavelmente, todas as mulheres por quem passamos têm lábios doces (e o mesmo sucede, naturalmente, com os homens). O que perturba, em certa medida, o pensamento lógico. (...) — Desculpe – disse ela -, mas vejo-o olhar para tudo com um ar tão inspirado...como o Deus mitológico do sétimo dia da criação. Pelo que vejo, está convencido de que foi você e não outro quem me criou a mim, facto que muito me lisonjeia.” Não queremos nós a não ser para embarcações e marinheiros e pescadores que os fazem essenciais e bonitos. Chega e sobra morar em frente ao porto de atracagem.