A Maravilha #21

Spectro-chrome (1920). Se recorremos à etimologia da palavra “espectro” (spectrum) chegaremos, inevitavelmente à aparição da imagem no quadro da fantasmagoria. Pois spectro pode referir o acontecimento da visão e da aparência, até de um vulto, se reconhecermos a experiência atemorizante e ameaçadora das primeiras projecções dos tecno-ilusionistas Athanasius Kircher (1602-1680) e Étienne-Gaspard Robert(son) (1763–1837). Nestas experiências a palavra “espectro” indicia o dispositivo de projecção enquanto prenúncio de um show. De algo que atravessa o momento de escuridão, criando teatros suspensos da artificialidade da luz. Para todos, e especialmente os curiosos, a imagem quase sempre um susto e emotivo. Esta imagem (projectada) ameaça, adquirindo a singularidade de um monstro e de um fugaz espectáculo pirotécnico
Sem projectar imagens e sem ser apenas uma lâmpada de 1000 watt, este aparelho azul bizâncio é o conclusivo estudo do “Coronel” Dinshah Pestanji Ghadiali. A cor é o argumento terapêutico, enquanto a luz é a energia sem divindade que o trespassa. Reproduziram-se pelo menos 10.000 equipamentos, tudo vendido. Na arquitectura própria foram conduzidas as sessões de cromo-terapia, The Spectro-Chrome Institute, Malage, em New Jersey (1933). As falsas curas e a pena cumprida, não impediram que o efeito deste singular aparelho se perpetuasse. Os estudos sobre a luz, a cor e a electricidade endureceram campos como a psicologia (também a da arte), o naturalismo, etc; ou ainda as conhecidas e ainda actuais práticas new age. De uma nota de rodapé da história da medicina, o emergente Homo Luminous  ganhou resistência. E a sua omnipresença encandeia desde, pelo menos, o tempo das luzes. Mas prestemos mais atenção aos tecno-ilusionistas já apontados, pois lembram que talvez guardados na sombra estejam outros e genuínos (a)pareceres.