A Maravilha #11


Passos em volta da mesa de jantar uma outra conversa. A mesa é um sítio horizontal no qual as pessoas debruçam, os braços e as mãos, e se dispõem a praticar exercícios de reductio ad absurdum. Sem ser a versão matemática, exemplos visuais acima, comecemos por esta versão: a "redução ao absurdo como um método irónico que visava ridicularizar uma doutrina adversária pela demonstração da falsidade de uma proposição levada até ao extremo das suas consequências." Se é que há doutrina. E demasiado lógico e por isso possível de ser equacionalmente demonstrado. Talvez seja melhor o exemplo de Sísifo: “para Sísifo, o alto era o eterno esforço, o alto não era nada e, por mais que entregasse a pedra, ela cairia no baixo para de novo ser trazida ao alto. Motivo de uma profunda decepção com as referências e os modelos, (...)." blá, blá, blá. Ao jantar foi servido esparguete fresco envolvido por gambas banhadas em vodka. Não, era gin. Especiarias. Como ir para lá da repetição deste tipo timbre de um movimento tão ritmado? Cima, baixo. Acima, abaixo. Já se imaginou a largar mal a pedra no alto e ser esmagado enquanto tentava desviar-se em direcção ao baixo. Para acompanhar vinho branco, tinto, e alguma limonada. O alto não era nada, mas continuava a ser tudo. Se à descida o atropelasse era o baixo que seria tudo, pelo menos o corpo restaria no chão. Solo de divindades. A inutilidade. Já falamos de Beckett. Apontamentos. Ainda não terminou a acta.