A Maravilha #13


[...] 23 indícios para (des)armar. 


1: Zona de colocação da mão que dispara, também conhecida por “zona da carne I”. 2: Protecção do cano por onde passa a bala. Ou cano. Ou amparo de velocidade. 3: Placa metálica tridimensional de forma irregular. Segurança da alavanca contra disparos improdutivos. 4: Roleta Russa. 5: Mini-alavanca sobre pressão. 6: Depósito ou arquivo. 7: Estranho mecanismo de conta relógio. Movimento necessário para a prática da “Roleta Russa”. 8: Tiro. 9: Accionamento, ou “zona da carne II”. 10: Ligação entre o “tiro” e o “sistema de alavanca maior”, primeira parte. 11: Travão. 12: Ligação entre o “tiro” e o “sistema de alavanca maior”, segunda parte. 13: Conchego de embate. 14: Caixa-de-ar por onde circula a energia. Tlin. Tla. 15: Canal de envio de pólvora. Tráfico. 16: Inclinação recortada de um plano de ferro que serve de encaixe. 17: Junta-forte. 18: Ponta de trás da alavanca. Ou popa. 19: Canal vertical na ré. 20: Canal horizontal na ré. 21: Prega. 22: Placa sobreposta do canal horizontal na ré. 23: Sólido irregular de sustento da junta-forte.

A Maravilha #12


Outro tipo de recortes no plano. A cognição da medida ovnilógica não pode ser deixada de lado, pois durante os anos 60 e 70 foi fruto de raras e expectantes metodologias de investigação que se experimentavam para lá dos laboratórios autorizados. Provavelmente nessa altura os laboratórios, pelo menos em Portugal, não seriam assim tão regularizados. Se pensarmos nem mesmo hoje, exceptuando aqueles que permanecem ligados a grandes instituições. Para a investigação científica a lei deste país ainda tece um solo paradisíaco. Continuando, apesar de inventora de “método”, a ovnilogia falhava e falhava. Nada diferente e tal como se processa no espaço de clausura do laboratório. Mas enquanto a maior parte da ciência fecha a natureza e suas anomalias no sítio céptico, a ovnilogia parte para a busca de fenómenos estranhos nessa natureza. Já não a razão da ontologia dos fenómenos verdadeiros e credíveis, antes a procura e registo do aparecer nos fenómenos que literalmente transcendem a terra e principalmente o “humano”. É certo que os “extra” têm sempre uma formalização antropomórfica, mas isso é nos “filmes” que buscaram inspiração à vocação destes senhores. Foi um amigo que me fez chegar isto sobre os avanços portugueses. Explore primeiro. A explicação e discussão dos factos, tipo Fátima e etc., como show extraterrestre não interessa. Esta ciência trabalha declaradamente neste sentido: da desmistificação para o novo mito. Ou seja retira, muitas das vezes, um valor substituindo por outro. Não parte da crença de deus, parte da crença sobre a complexidade e vidas do universo. Não interessa a factualidade e a verdade objectiva sobre este mundo. Interessa a procura de uma metodologia pronta para sondar, não esquecer estar nos sítios à hora certa, e à mínima suspeita montar todos os engenhos e dispositivos de detecção e de registo. Existem vários grupos de investigação nacionais e internacionais e publicações que ora esgotaram nos anos 70 ora continuaram numa vertente mais científica, cujos nomes estão entre “Grupo de estudos e informações sobre os fenómenos aeroespaciais”, “Céu e espaço”, “Grupo de investigação de elementos relativos da vida extraterrestre”, etc. Interessante perceber que nestes estudos se reúnem áreas díspares, entre a astronomia às ciências sociais, que trabalham na reunião e verificação das testemunhas e na constituição de arquivos e guarda de registo dos fenómenos, procurando o relatório inconclusivo e “não identificável”. A averiguação da simulação desses “apareceres” é hoje imperativa face aos recursos tecnológicos actuais. Ainda assim o interesse maior é que estes estudos rigorosos se desenvolvem num escape à ciência. Apesar de muitos dos seus contribuintes serem cientistas. Antoine Augustin Cournot (1801-1877) não tem nada a ver com isto mas introduziu um conceito que talvez nos leve a outra compreensão do escape das agarras da racionalidade objectiva. É irresistível neste ponto não anotar a ideia que contribuiu para o entendimento dos recortes dos limites das implicações deterministas da ciência e da metafísica na afirmação de uma visão mais moderada. O “acaso objectivo” que influenciou muito da filosofia francesa, tanto da natureza como da vida orgânica e do espírito, foi central e se nos esforçarmos compreenderemos que a própria arte do início do século XX se viu fascinada com este “acaso”, bastaria lembrar o “compêndio de geometria” de Duchamp e também da confiança depositada pela vanguarda artística na performatividade surrealista desse hasard objectif (Breton, 1928). Para os surrealistas o “acaso objectivo” diferia do “acaso subjectivo”, logo o primeiro provocado e o segundo arbitrário, mas ambos estariam na propensão do abandono ao material. Provocar e assinalar o acaso seria uma forma de assistência declarada aos fenómenos imprevistos de uma sociedade regulada pelo limite da “racionalidade dos fins” (Bürger,1973). A provocação do excepcional e o domínio do acaso revelaram ser as ferramentas de contra-projecto para a constituição de uma “mitologia moderna” que se encontra na realidade ou a partir dela. Não podendo ser determinado, pois assim seria rapidamente absorvido pela racionalidade dos fins, o acaso surrealista é inapreensível, usando os termos de Bürger, e alienado da necessidade de alguma organização, ao ponto de paradoxalmente opor-se ao social. A liberdade estaria na excepcionalidade e nas maravilhas recortadas do quotidiano heterónomo no qual dominava a ordem burguesa. É a partir daqui que se pode compreender a patafísica como limite, ou se quisermos, por outro lado, o pessimismo de Marx e Engels. Adorno (1970) chegou a colocar o acaso na performatividade da obra de arte em vez da realidade. Nomeando de “acaso mediado” aquele que é fruto do cálculo. Ainda assim um cálculo que seria o meio em vez do efeito: este último continuaria a ter graus de imprevisibilidade.