A Maravilha #19

Não é tetris (v. #2). É vertigem em dois sentidos. 1. A vertigem pode ser a sensação provocada pela armadilha que a natureza estende à razão humana. O observador é paralisado. Ainda assim existem os “discípulos da Natureza” que sentem sistematicamente a alegria de aprender e experimentar, elegendo com cuidado o fenómeno, “fixando com obstinação”. Talvez não seja ainda criação. Pois, e em reforço, “elegem especialmente e com todo o cuidado um fenómeno fixando com obstinação no seu espírito, que apresenta mil formas diferentes, os olhos.” E, “ajudados por esse fio condutor, percorrem todos os cantos do laboratório para poderem traçar o mapa dos caminhos do labirinto”. Os olhos. No entanto ou “apesar disso, o conhecimento da natureza será incomensuravelmente diferente da interpretação.” Provavelmente “o primeiro passo para se investigar tão gigantesco mecanismo já é o passo para o abismo, começo de uma vertigem que, não tarda, vai apoderar-se por completo do miserável e arrastá-lo consigo ao mais fundo de uma noite abominável.” Citações in Os Discípulos em Saïs. 2. A vertigem pode ser a sensação provocada pelas construções e operações das máquinas. O topo do tetris. Ou melhor, querer-se no topo. Na progressão.

A Maravilha #18

[...] É preciso não esquecer o que Vilém Flusser disse (in, A história do diabo 1965): “os astros são fenómenos temporais, como tudo neste nosso mundo dos sentidos. Com efeito, os astros são imperpétua mobília como as máquinas que nós produzimos.” Portanto, “não, a máquina gigantesca dos astros é obra do diabo. E o nosso parque industrial é sua prole tardia. Os nossos aparelhos são cópias aperfeiçoadas do padrão diabólico que aparece, todas as noites, acima das nossas cabeças.” Então, “O diabo não passará, doravante, de mera parte da criação, a saber aquela parte que torna sensível o mundo. (...): o diabo é, (no seu aspecto externo), o fluxo do tempo, graças ao qual os fenómenos aparecem.” = creator.